Abandono da política de atenção à saúde dos povos indígenas no Brasil pode causar mortes.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) lançou neste domingo (24), uma
convocatória memorando um pouco do histórico que se deu a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e
chamando para reação imediata nas bases, numa semana de mobilização contra a
municipalização da saúde indígena.
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Foto: Arquivo APIB |
Nota da Apib e convocatória da mobilização para a próxima semana, entre os dias 25 e 29 de março.
O governo Bolsonaro segue com a
sua política genocida atacando severamente, cada vez mais, os povos indígenas.
O seu ministro Luiz Henrique Mandetta em um pronunciamento sobre a política de
saúde no Brasil, anunciou em 30 segundos o fim do subsistema de saúde indígena.
Tal atitude não nos causa nenhuma estranheza, diante dos retrocessos praticados
e anunciados pela extrema direita no poder, porém, nos causa muita indignação e
revolta.
A
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com o apoio das suas
organizações de base em todas as regiões do país, vêm a público manifestar o
seu profundo e veemente repúdio à posição rotineira e intransigente deste
governo de destruir de todas as formas, os povos originários deste país.
Desde
o início de seu mandato, o referido ministro da saúde tem anunciado o projeto
do governo Bolsonaro e suas intenções quanto a municipalização da saúde
indígena, ação esta condenada pelos povos e organizações indígenas, pois a
intenção é unicamente o desmonte da Política Nacional de Atenção à Saúde dos
Povos Indígenas (PNASPI), historicamente conquistada com muita luta pelo
movimento indígena.
Desde
a criação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), em 1967, diferentes
instituições e órgãos governamentais ficaram a frente da responsabilidade pelo
atendimento à saúde dos povos indígenas, que apesar de diversas e constantes
avaliações e orientações, nunca foi satisfatório.
Em
1999, com a criação da “Lei Arouca” (n° 9.836) a gestão da saúde indígena
voltou para o Ministério da Saúde, com a responsabilidade de estabelecer as
políticas e diretrizes para a promoção, prevenção e recuperação da saúde
indígena, cujas ações passaram a ser executadas pela Fundação Nacional de Saúde
(Funasa) com a criação e implementação dos 34 Distritos Sanitários Especiais
Indígenas (Dsei’s), cujos serviços de atenção básica à saúde e prevenção
começaram a ser executadas em todo Brasil, através da estratégia de
descentralização de recursos via convênios, firmados com organizações da
sociedade civil – associações indígenas e indigenistas – e algumas
administrações municipais.
O
Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASI/SUS) vinculado diretamente ao
Sistema Único de Saúde, então regido pela Funasa por décadas, passou a ser alvo
de graves denúncias de corrupção e deficiências no atendimento. A partir daí, o
movimento indígena iniciou a luta para que a gestão da saúde indígena passasse
para a responsabilidade do Poder Executivo Federal, por meio de uma secretaria
específica, diretamente ligada ao Ministério da Saúde.
Em
2010, essa histórica reivindicação dos povos indígenas foi atendida com a
criação da Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI), que ligada
diretamente ao Ministério da Saúde assumiu a responsabilidade de gerenciar todo
o subsistema de atenção à saúde dos povos indígenas do país, levando em conta
critérios epidemiológicos, geográficos, culturais e etnográficos dos povos
indígenas.
A
SESAI é uma conquista da luta dos povos indígenas do Brasil. Nasceu após meses
de discussões do grupo de trabalho criado na época pelo próprio governo
federal, composto por 26 membros, entre representantes do Ministério da Saúde,
da Funasa, da Funai e de lideranças indígenas. Este extenso trabalho culminou
em cinco grandes seminários regionais por todo o país, que promoveram escuta e
debate com diversos povos e lideranças indígenas, com resultado coletivamente
aprovado num amplo processo de consulta popular.
Recentemente,
diante das diversas ameaças de retrocessos, os povos indígenas se manifestaram
veementemente contrários ao indicativo de municipalização da saúde indígena,
dada a evidente e inevitável catástrofe que seria para os povos indígenas a
concretização da proposta, ademais em ano político eleitoral municipal se
aproximando.
O
senhor Ministro da Saúde demonstrou indiferença em relação a preocupação dos
povos indígenas, pois continua reafirmando em suas manifestações a
transformação da SESAI em um mero DEPARTAMENTO.
Na prática, a medida é um golpe
contra a política de saúde, já que, convertida em departamento, a SESAI perderá
sua autonomia administrativa, orçamentária e financeira.
Atos
criminosos planejados pelo senhor Ministro Mandetta, como o não pagamento dos
salários dos servidores, impossibilitando o atendimento às comunidades, a falta
de repasse de recursos comprometendo ações essenciais como a compra de
remédios, a realização de exames e a remoção de doentes para os centros de
referência, o fechamento das Casas de Apoio ao Índio (CASAI) e a generalização
sobre a atuação das ONG’s, estão acontecendo, já articulados pelo projeto
perverso de empurrar goela abaixo dos povos indígenas a municipalização –
sucateando a saúde e tornando-a insustentável, para que a população indígena
agonize até a morte nos municípios, desresponsabilizando a União.
Não
é no município que a diversidade no atendimento será assegurada. O nosso modelo
foi construído com princípios e diretrizes que garantem o respeito a
diversidade dos povos e territórios indígenas e garantem a participação do
controle social para que as comunidades possam acompanhar, fiscalizar e
contribuir com a execução da política nacional de saúde.
Assim
sendo, os povos indígenas do Brasil estão organizados e mobilizados para não
aceitar tamanha atrocidade, convocando o maior levante da história,
mobilizações locais, regionais e nacional, pela vida dos nossos povos. Não
vamos assistir ao extermínio de nossa população em silêncio!
Vamos
lutar de pé com todas as forças que temos!
Mobilização já!
Resistir para Existir!
Sangue Indígena, Nenhuma Gota a Mais!
De 25 a 29 de março, semana de mobilização!
Mobilização já!
Resistir para Existir!
Sangue Indígena, Nenhuma Gota a Mais!
De 25 a 29 de março, semana de mobilização!
Articulação
dos povos indígenas do Brasil, 24 de março de 2019.
Baixe
a nota aqui: Nota APIB - SESAI