O último dia 31 de janeiro foi marcado por atos no Brasil e no
exterior, para levar às ruas a mensagem da campanha da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil Sangue Indígena: nenhuma gota a mais!
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Foto: Isabela Motta Cardoso / Coletivo Brasil-Montréal |
O Coletivo Brasil-Montréal
realizou nesta quinta-feira (31), um ato político em apoio à campanha da
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) “Sangue Indígena: Nenhum
Sangue a Mais.” Essa campanha tem sido realizada nesse mês de janeiro, no
Brasil, devido aos recentes e graves retrocessos envolvendo políticas públicas
de demarcação de terras, educação e saúde indígenas, assim como direitos
humanos e socioambientais dos povos indígenas no Brasil. Como parte dessa
campanha, neste dia 31 de janeiro de 2019, aconteceram mobilizações indígenas em todo o Brasil e atos de apoio em vários países do mundo: Estados Unidos (Los
Angeles, Nova Iorque e Washington-DC), Reino Unido (Londres), Portugal (Lisboa,
Porto, Coimbra), Suíça (Zurique), França (Paris), Escócia (Edimburgo) e Canadá
(Montréal).
Em Montréal, o ato contou
com a entrega de uma carta ao Consulado do Brasil em Montréal e com uma
manifestação em frente ao consulado. A carta foi recebida pelo consulado que se
comprometeu a envia-la ao governo brasileiro. Na manifestação, a uma
temperatura com sensação térmica de aproximadamente -26 graus, estavam
presentes cerca de 15 pessoas entre brasileiros, canadenses e pessoas de outras
nacionalidades que demonstraram o seu apoio e solidariedade aos povos indígenas
do Brasil. Estavam também presentes um representante do Comitê pelos Direitos
Humanos na América Latina (CDHAL), uma organização não-governamental canadense,
e outro representante do Coletivo brasileiro Nhoirū Eté (COINE-Rio de Janeiro)
formado por indigenistas e representantes das comunidades indígenas Guarani
Mbya.
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Foto: Isabela Motta Cardoso / Coletivo Brasil-Montréal |
O Coletivo Brasil-Montréal
é uma organização civil não partidárias, composta por brasileiros que possuem
cidadania canadense e por brasileiros residentes no Canadá, que tem como
proposta a defesa da democracia como um direito humano no Brasil e no Canadá,
tendo sido fundado em Montreal, em 25 de março de 2016.
A carta assinada pelo
Coletivo Brasil-Montréal segue abaixo e em anexo. As imagens são referentes ao ato da entrega da carta ao vice-cônsul do
Consulado do Brasil em Montréal e da manifestação.
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Foto: Isabela Motta Cardoso / Coletivo Brasil-Montréal |
Leia na íntegra:
CARTA AO CONSULADO
“Quando o último rio secar
Quando a última árvore cair
Quando o último peixe for pescado,
O homem enfim entenderá
Que dinheiro não se come”
- frase atribuída
a indígena da América do Norte
Excelentíssimo Senhor
Rubens Gama Dias Filho
Cônsul-Geral da República
Federativa do Brasil em Montreal
O Coletivo
Brasil-Montréal, integrante da FIBRA (Frente Internacional Brasileiros contra o
Golpe), manifesta enfaticamente seu apoio à campanha “Sangue Indígena: Nenhuma
Gota a Mais”, promovida pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB),
que hoje, 31 de janeiro de 2019, convoca a sociedade brasileira e internacional
a se unir à grande mobilização no Brasil em defesa dos povos indígenas,
repudiando veementemente as iniciativas do novo governo que ameaçam a
sobrevivência e a preservação da cultura desses povos.
Colocando em prática
políticas discriminatórias vocalizadas desde a campanha presidencial, o
Presidente determinou, por meio da Medida Provisória 870/2019 de 1o. de janeiro
de 2019 (primeiro dia do novo governo, note-se), que a identificação,
delimitação, reconhecimento e demarcação de terras indígenas fosse doravante
competência do Ministério da Agricultura, que historicamente atua em defesa dos
interesses do agronegócio na disputa pelas terras no país, usurpando uma
atribuição que é, há 30 anos, da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A nova
administração restringiu ainda mais a atuação da FUNAI, ao transferi-la do
Ministério da Justiça para o novo Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, liderada por Damares Alves, que tem longo histórico de
perseguição aos povos indígenas. Trata-se de retrocesso significativo na
política de preservação dos povos e culturas indígenas.
Não há como não enxergar o
conflito de interesses criado com a publicação da MP 870/2019. É público e
notório que a atual ministra da agricultura, Sra. Teresa Cristina, representa
os interesses da bancada ruralista do Congresso Nacional. Os ruralistas, por sua vez, estão muito mais
interessados em receber vantagens, muitas vezes pessoais, em decorrência de sua
associação com o grande capital (particularmente do agronegócio) e conivência
com as práticas de grilagem do que na preservação da cultura indígena, da
biodiversidade, das florestas, da fauna e da flora brasileiras. É falso o
argumento de que, ao “flexibilizar” a demarcação de terras indígenas, estão
defendendo o crescimento econômico do Brasil. O desenvolvimento do país nunca
pode servir de justificativa para o genocídio de populações nativas, mais ainda
quando esse “argumento do desenvolvimento” prova-se ser uma falácia desonesta e
interesseira.
A monocultura, a pecuária,
a mineração ou os grandes projetos de qualquer espécie, com toda a destruição
que acarretam, nunca conseguiram fazer com que o Brasil alcançasse patamares
razoáveis de justiça social e ambiental. Por outro lado, o uso sustentável e a
preservação de nossa sociobiodiversidade garantirão um legado inestimável às
futuras gerações e um papel de destaque do Brasil no mundo a longo prazo.
Os indígenas são os
autênticos guardiões das florestas e da biodiversidade brasileiras. Não há como
dissociar a questão indígena da questão ambiental, uma vez que entre os nativos
e a natureza a relação é de perfeita simbiose e harmonia, de sustentabilidade,
de preservação e de uso racional de recursos naturais escassos. O que os
demagogos hipócritas apregoam da boca pra fora os indígenas o colocam em
prática há milênios.
Pelas razões expostas,
contamos com a compreensão e com os bons-préstimos de Vossa Excelência no
sentido de transmitir, à Secretaria de Estado do Ministério das Relações
Exteriores e às autarquias que Vossa Excelência julgar pertinentes, o teor de
nosso protesto contra os novos rumos que a nova administração federal vem
tomando no que tange à questão indígena brasileira. Anexa a este documento,
encontra-se carta da APIB com divulgação de sua campanha, que, reiteramos,
apoiamos veementemente.
Atenciosamente,
Coletivo Brasil-Montreal
Registros do ato por Isabela Motta Cardoso / Coletivo Brasil-Montréal
Enviado por
Priscylla Joca e Eluza Gomes (membros do Coletivo
Brasil-Montréal)
Acompanhe na página da APIB os registros das manifestações no Brasil e no mundo
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Edição
Janete Melo