Nota Pública da ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL - APIB
Contrário ao slogan do governo golpista de Michel
Temer - “ordem e progresso” -, o que se verifica hoje no Brasil é desordem e
regresso. Isso mesmo, a volta ao passado, aos tempos da invasão europeia, com
uma marca peculiar no Sul do Brasil, onde por terceiro ano consecutivo membros
de povos indígenas são vítimas das atrocidades cometidas certamente por
descendentes de europeus, que naquela região imperam como se fossem os donos
originários das terras e territórios invadidos por seus ascendentes e cobiçadas
pelas atuais hordas do agronegócio.
No final de dezembro de 2016, Vitor Kaingang, uma
criança de dois anos de idade, foi degolado por um desconhecido, enquanto era
alimentado pela mãe, em Imbituba. Em novembro de 2017 a indígena Ivete de
Souza, 59, teve a sua mão esquerda decepada a golpes de facão, desferidos por
dois adolescentes durante um ataque à aldeia Guarani da Terra Indígena Morro
dos Cavalos, e agora, no início de janeiro de 2018 o professor indígena
Laklãnõ-Xokleng, Marcondes Namblá Marcondes morre vítima de espancamento, com
pauladas na cabeça, quando fazia trabalho temporário - vendendo picolé - no
período de férias turísticas no litoral do estado de Santa Catarina. Marcondes
era professor indígena empenhado na revitalização da cultura e língua do povo
Xokleng, egresso da UFSC, formado pelo Curso de Licenciatura Intercultural
Indígena do Sul da Mata Atlântica.
O governo ilegítimo, porém, ainda diz, por meio de
seus porta-vozes que a comunidade internacional tem que respeitar os seus
feitos – no quesito preservação ambiental; desqualifica e criminaliza, com
graves calúnias e difamações, por meio de seus capatazes de plantão, a
lideranças indígenas que denunciam no âmbito nacional e internacional os seus
desmandos, especificamente com relação à política indigenista, sucateada e
totalmente anti-indígena para atender os interesses da bancada ruralista em
troca de apoio ao seu projeto golpista.
A APIB entende que estas atrocidades cometidas contra
os povos indígenas, especialmente no sul do país, fazem parte do contexto de
discriminação e de racismo institucional, alimentado nos últimos anos inclusive
por discursos de parlamentares da região, por noticias mentirosas veiculadas
nos meios de comunicação afins ou patrocinados pelo agronegócio e ainda por
declarações de agentes públicos, até mesmo da Funai – leia-se ouvidor-, e de
autoridades de governo como o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que declarou, recentemente, que as retomadas de terras por indígenas constituem
terrorismo.
A APIB clama por isso às instituições constituídas no
Estado de Direito observância rigorosa dos direitos dos povos indígenas
reconhecidos pela Constituição Federal de 1988, e julgamento e punição dos
responsáveis dos crimes cometidos contra membros e comunidades dos povos
indígenas.
Brasília – DF, 08 de janeiro de 2018.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB
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Foto reprodução do Facebook / Página da APIB |
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