Quando saiu a decisão de que o tatu-bola seria o mascote da
Copa de 2014, defensores da espécie acreditaram que seria o trampolim para mais
conscientização e medidas de proteção do mamífero, que corre o risco de
desaparecer. Porém apesar de o animal ser protagonista das publicidades do
Mundial, poucas ações concretas foram realizadas para preservá-lo. A única, até
o momento, foi o anúncio de que deve ser lançado um plano nacional de
conservação do tatu-bola, com duração de cinco anos.
Inicialmente, os cientistas vão aprofundar os estudos sobre
o mamífero – embora ele seja um dos mais emblemáticos do país, é pouco
conhecido. O animal vive exclusivamente na caatinga e no cerrado brasileiros.
“A gente tem
pouquíssimas pesquisas, que sequer indicam informações como qual é a
distribuição do tatu-bola no território nacional. Indicações disso foram feitas
por expedições antigas e naturalistas. A população atual deles também não se
sabe, assim como há controvérsias sobre os hábitos dele, se são noturnos ou
diurnos”, explica Rodrigo Castro, secretário-executivo da Associação Caatinga,
que participa do plano de proteção. “Há uma estimativa de que a população foi
reduzida em 30%, mas é uma estimativa pouco detalhada, sobre uma tendência de desaparecimento
na natureza.”
O
tatu-bola está na lista de ameaçados de extinção devido ao avanço do
desmatamento na região, no norte e o nordeste do país, e o hábito local de
caçar o animal para o consumo na alimentação. Essas duas causas podem ser a
explicação para ele desaparecer em 50 anos.
“O que os
estudos colocam de forma muito veemente é que existe uma sinergia entre estes
dois fatores. Quando há desmatamento, o tatu-bola se afugenta daquela área,
passando a deslocar mais e a se concentrar em outras áreas, ou seja, ele fica
mais suscetível à caça”, afirma Ugo Vercillo, coordenador-geral de manejo para
conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio).
Pelúcias não trarão ajuda
Os ambientalistas
lamentam que a escolha do tatu-bola como mascote da Copa tenha surtido poucos
resultados, até agora, para a prevenção da espécie. Segundo Rodrigo Castro, 1
milhão de pelúcias do personagem Fuleco estão sendo fabricadas na China, mas
nem um centavo da venda dos produtos será destinado ao plano de conservação.
A
Associação Caatinga luta para que ao menos informações sobre a situação
preocupante do animal sejam veiculadas aos produtos, mas por enquanto a Fifa
parece decidida a separar o evento de campanhas ambientalistas. “A Fifa está
desenvolvendo uma série de ações em volta do mascote, licenciando produtos com
bonecos do Fuleco, mas o Fuleco não está ajudando em nada o tatu-bola. Quando
sonhamos com ele sendo o mascote da Copa, sonhamos que ele seria um dos
principais porta-vozes da questão e ajudaria na luta pelo tatu-bola. Mas de
concreto, não mudou nada”, constata Castro.
Já Vercillo
tem poucas esperanças de que o mascote Fuleco ajude a sensibilizar caçadores e
grandes proprietários de terras sobre a preservação do tatu-bola. “Eu duvido
que as empresas que fazem o plantio de soja vão parar com o seu desenvolvimento
por causa do mascote da Copa. Da mesma forma, as pessoas que comem o tatu-bola
por necessidade não deixarão de comê-lo porque ele é mascote da Copa”, observa.
“O nosso grande desafio é conseguir chegar nessas populações e mudar um pouco o
modo de vida delas, sem impactar muito na biodiversidade. A gente às vezes
aponta para umas soluções, como incentivar a caprinocultura, para o pessoal ter
leite e carne para poder comer, mas as cabras também são um belo desastre
ambiental na região, ao acabarem com uma vegetação que é importante para outras
espécies.”
Na
iniciativa privada, a única empresa que colaborou para a preservação da espécie
foi a alemã Continental Pneus, com um investimento de 100 mil reais.A
estimativa é de que um plano eficiente de conservação precisaria de pelo menos
2,5 milhões de reais por ano.
Fonte: Rádio França Internacional, 13/03/2014
Publicado no blog A Caatinga