alarmista
a.lar.mis.ta
s m+f (alarma+ista) Pessoa que
espalha boatos alarmantes.
utópico
u.tó.pi.co
adj (utopia+ico2) 1 Relativo a
utopia. 2 Que encerra utopia. 3 Fantasioso.
Divulgar os resultados robustos
da Ciência do Clima, recorrentemente confirmados por fontes independentes que
vão desde medidas de superfície a estimativas por satélite, de resultados
convergentes de uma miríade de modelos climáticos a testemunhos do paleoclima
nada tem a ver com "espalhar boatos".
Até porque as projeções e
estimativas apresentadas pelo IPCC têm-se mostrado, em sua maioria,
conservadoras. Todas as projeções climáticas de aquecimento do sistema
terrestre têm se confirmado. As de degelo, especialmente no Ártico, e de
elevação do nível dos oceanos têm subestimado estes fenômenos que, na prática,
têm-se mostrado mais intensos.
Sabemos o mecanismo por trás do
aquecimento observado. É mostrado por experimentos de laboratório e por tudo o
que conhecemos dos climas da Terra e até de outros planetas (Vênus,
principalmente) como o CO2 interage com radiação infravermelha e qual o impacto
disso no balanço energético planetário. Sabemos, até pela "impressão
digital" isotópica que o aumento da concentração desse gás na atmosfera
terrestre se deve à queima dos combustíveis fósseis.
Sabemos também que um clima mais
quente será também um clima de extremos e implicará em crise hídrica e
alimentar, em perda de biodiversidade e um sem número de impactos perigosos à
nossa espécie e a grande parte da biota terrestre, com quem compartilhamos, via
DNA, um histórico comum de bilhões de anos. Desde quando alertar o gênero
humano sobre esses riscos é "alarmismo".
Calar-se, sim, mereceria diversos
nomes: covardia, pusilanimidade, omissão, irresponsabilidade. Mentir a esse
respeito como fazem os negadores, aí já é uma ignomínia, um verdadeiro crime
perpetrado contra as gerações mais jovens e as gerações posteriores.
Também não há nada mais
fantasioso do que acreditar nos benefícios dos combustíveis fósseis. Utopia é
achar que vai "ficar tudo bem" num regime de "business as
usual", que não se deve temer a desestabilização do clima. Ou que algum
milagre de "geoengenharia" vai resolver o problema mais à frente.
Cada molécula de CO2 que se
acumula na atmosfera em função do desequilíbrio do ciclo do Carbono é um ataque
aos pobres do Haiti, de Cuba e da Jamaica, que enfrentaram Sandy em condições
terríveis; aos sem-teto e "imigrantes ilegais" de nova-iorque que
temiam ir para abrigos e serem presos; aos trabalhadores estadunidenses que não
têm seguro contra enchente (diferente dos segmentos abastados) e, a cada
catástrofe, só fazem juntar os destroços; aos países insulares, que têm seus
mananciais de água potável e seu próprio território carcomidos a cada avanço
dos oceanos.
Aos agricultores de sequeiro,
cujas culturas tradicionais podem ficar para sempre comprometidas num planeta
mais quente com maiores taxas de evapotranspiração; aos coletores, que dependem
dos mangues, e dos pescadores artesanais, que serão vitimados pelo declínio da
biota marinha e costeira associada à acidificação dos oceanos. Cada ppm aumenta
a probabilidade de eventos extremos. Sabemos o que deve ser feito e sabemos que
urgem medidas para manter a maior parte das reservas fósseis intocadas.
No Brasil, isso poderia ser feito
imediatamente, com um programa de desmatamento negativo (isto é,
reflorestamento), taxação do Carbono com atribuição real dos preços, monopólio
estatal da exploração dos combustíveis fósseis, compensação internacional pela
não exploração do pré-sal (o Equador abriu mão de explorar petróleo sob a
reserva Yasuni), um programa acelerado de substituição das fontes fósseis de
energia e uma política agressiva nas reuniões de clima, unindo-se ao movimento
por Justiça Climática e aos países insulares na defesa da estabilização das
concentrações de CO2 em 350 ppm.
Encarar essa realidade dura e
difícil, mas ter consciência de que é possível cumprir a missão, brecando a
locomotiva consumista-fossilista, não tem nada de fantasia. É realismo.
Então, como cientista da área,
como pai, como militante social, por que não bradar, a toda voz? Com medo de um
punhado de pilantras negadores me tachar de alarmista? Com receio de uma
maioria de acomodados "realistas", que defendem involuntariamente o
desvario fossilista, me considerarem sonhador ou "utópico"? Ah, não.
Respondam-me, nessas condições, o que você faria se soubesse o que eu sei?!?
Alexandre Araújo Costa
PhD em Ciências Atmosféricas pela
Universidade do Estado do Colorado
Professor Titular da Universidade Estadual
do Ceará.