Nós,
brasileiros e brasileiras residentes no exterior, integrantes de
coletivos internacionais de luta pela democracia no Brasil vimos
expressar nossa profunda indignação e solidariedade face aos
últimos ataques aos direitos territoriais, humanos e socioambientais
do Povo Indígena Guarani e Kaiowá.
No
último dia 11 de julho, homens armados com armas de fogo investiram
contra o tekoha Guapo’y atingindo três indígenas, dentre esses
dois jovens, um de 15 e outro de 17 anos, estando um deles em estado
grave. De acordo com o Conselho Nacional Indigenista (CIMI), o ataque
aconteceu sob a presença na região da Força Nacional de Segurança
(município de Caarapó, Mato Grosso do Sul).
Menos
de um mês antes (em 14 de junho), no mesmo município, ocorreu um
massacre praticado por forças paramilitares contra famílias
indígenas, que provocou a morte de um jovem indígena e deixou, ao
menos, seis feridos, entre eles uma criança de 12 anos. Lideranças
indígenas e defensores de direitos humanos alertam que os conflitos
na região ainda não cessaram e que o massacre pode continuar. O
Povo Guarani-Kaiowá, mais uma vez, afirma que só sairá morto de
suas terras ancestrais, e segue resistindo.
Já
no dia 6 de julho, ocorreu um despejo forçado (sob ordem judicial)
da comunidade indígena Guarani Kaiowá de Apyka’i, a qual se viu
obrigada, sem consulta prévia ou possibilidade de realocação, a
abandonar suas terras tradicionais, encontrando-se agora, de acordo
com a Anistia Internacional, vivendo em beira de estrada, com acesso
restrito a água e a comida.
Esse
desolador cenário de graves violações de direitos não é atual. O
Povo Guarani-Kaiowá vem sendo expulso de suas terras e confinado em
áreas inabitáveis, e, por essa razão, vem praticando a retomada de
suas terras a fim de sobreviver como um Povo. Contudo, o avanço do
agronegócio, a perpetuação dos latifúndios no Brasil, as
tentativas de abolição de direitos constitucionais indígenas por
parte do Congresso Nacional e a nova conjuntura política do governo
federal atual no Brasil, fortalecem ainda mais um cenário já
existente de violações, violências e impunidades, que ameaçam
mais uma vez a vida desse Povo.
A
situação genocida contra os Guarani Kaiowá vem persistindo há
tempos. Ainda em 2012, Patrick Wilcken, então pesquisador da Anistia
Internacional, escreveu em artigo intitulado “Guarani Kaiowá: à
margem dos direitos”, que “não se passa um mês sem que a
Anistia Internacional receba novas denúncias de violações contra
as comunidades Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul”.
Destaca-se
que não houve responsabilização, até a presente data, de autores
do crime cometido em 14 de junho. Ainda que, segundo o CIMI, diversos
meios de prova (como registros audiovisuais do ataque e cápsulas de
munição) tenham sido apresentados à polícia federal pelos Guarani-Kaiowá. Ainda segundo o CIMI, desde agosto de 2015, quando foi
assassinado o líder Simeão Vilhalva, no tekohá Nhenderú
Marangatu, foram registrados mais de 25 ataques paramilitares contra
comunidades do povo Guarani-Kaiowá no estado do Mato Grosso do Sul.
Nesse
contexto, nós, brasileiros e brasileiras integrantes de coletivos de
luta pela democracia no Brasil que subscrevem essa carta, afirmamos
que seguiremos atentos como observadores internacionais, difundindo
essas notícias nos países em que residimos e buscando apoio junto a
organizações de direitos humanos internacionais. Do mesmo modo,
solicitamos que sejam tomadas todas as medidas de responsabilização
pelos dois massacres de Caarapó, bem como medidas de proteção das
famílias indígenas afetadas pelos conflitos e todas as medidas
necessárias para cessar as ações paramilitares na região, e que
sejam tomadas as devidas providências para a demarcação da Terra
Indígena que lhes é devida por direito.
Somos
todos Guarani-Kaiowá!
Subscrevem essa carta:
- Rede
de Brasileiros no Mundo Contra o Golpe
- Articuladores
de coletivos internacionais de luta pela democracia no Brasil
- Pela
Democracia e contra o golpe!
- Comitê
Defend Democracy in Brazil, Nova York, EUA
- Coletivo
MD18, Paris, França
- Coletivo
Brasil-Montréal (Montreal, Canada)
- Coletivo
da Holanda
- Coletivo Passarinho (Buenos Aires)
- Coletivo Passarinho (Buenos Aires)
- Coletivo
Amig@s da Democracia (Barcelona)
- Coletivo
de Lyon
- Coletivo de Montevideo
- Coletivo de Montevideo
- Collectif
Brésil 34 – Montpellier
- Brazilian Expats For Democracy and Social - Justice (BED), Washington DC
- Coletivo Brasil-Chile
- Brazilian Expats For Democracy and Social - Justice (BED), Washington DC
- Coletivo Brasil-Chile
- Coletivo
México Brasil Contra el Golpe
- Coletivo
Munique
- Coletivo
de Roma
- Collectif Brésil 34, Montpellier, França
- Collectif Brésil 34, Montpellier, França
- Coletivo
Brasileir@s en Uruguay por la Democracia
- GDTB
- Grupo de Discussão sobre Temas Brasileiros, Hamburgo
- Stop
the Coup in Brazil – Madrid Connection
- Associación Cultural Brasileña Maloka (Madrid)
- Associación Cultural Brasileña Maloka (Madrid)
- Coletivo
pelos Direitos no Brasil (Madrid)
- Coletivo
Curumin Bologna Contro il Golpe
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Cacique Damiana Guarani e Kaiowá (despejo de Apyka'i) Foto: Rodrigo Siqueira |
Enviado para O PLANETA EM MOVIMENTO por Priscylla Joca - Montreal, Canadá