50 anos da Ditadura Militar. Tantas lutas, tantos mortos,
desaparecidos, torturados, colocados na clandestinidade, exilados, perseguidos,
censurados... 46 anos do assassinato de Edson Luis (28.03.68). E o que mudou?
Através da transição transada via Colégio eleitoral (1985), os militares
deixaram o poder. Mas o seu projeto de modernização capitalista continuou,
agora sob a roupagem democrática. A democracia pela qual se lutou deu na
barbárie. Os responsáveis pelas atrocidades ficaram impunes e as Comissões da
Verdade são impotentes para puni-los. E hoje, muitos dos que lutaram contra a
ditadura levam adiante, dentro ou fora do governo, as idéias e a prática de
modernização, progresso e desenvolvimento dentro da mesma lógica capitalista.
Essa modernização recuperadora e seus sistemas fracassaram.
Defrontaram-se com seus limites, acarretando uma crise sem precedentes na
história do capitalismo. Diante dessa crise, considerada por alguns o próprio
colapso do sistema, os governantes não têm resposta, a não ser restrição de
direitos, demagogia, repressão e investimentos em favor do capital. Mas Copa do
Mundo, BRICS, megaeventos, grandes empreendimentos, eleições, não vão resolver
o problema. Apenas dão uma sobrevida a essa lógica mercantil destrutiva e
insana que tudo sacrifica no altar das mercadorias e do dinheiro. É a ditadura
do mercado e do capital que resulta no ECOCÍDIO - destruição da natureza e da
vida, acarretando catástrofes ambientais, pondo em risco todo o planeta terra,
no GENOCÍDIO – violência, extermínio de populações, tragédias humanas e sociais
-, caos urbano, corrupção, falência dos serviços públicos, destruição do
patrimônio histórico, desumanização acentuada dos seres humanos, barbárie.
Amarildos e Cláudias que o digam.
E ainda, expressões disso são as ações e projetos dos
governos municipal, estadual e federal pondo em causa o Parque do Cocó,
Jericoacoara e outras áreas e ameaçando de destruição a Praça Portugal e
árvores do entorno para favorecer o império do carro e o mercado imobiliário;
os grandes empreendimentos (Aquário, Ponte Estaiada, VLT, etc.) que prejudicam
a população; os despejos forçados (Acampamento Cocó, Alto da Paz, Comunidade do
Cumbe) e remoções de famílias, comunidades, tudo isso em nome do capital e
usando a violência do Estado; tratamento desumano e assassinatos de moradores
da periferia, justificados pelos “autos de resistência”; o extermínio da
juventude, principalmente pobre e negra; o aumento da violência, assaltos,
tráfico de drogas, estimulados pela própria lógica do sistema que dissemina a
ideia do TER/CONSUMO em detrimento do SER/VIDA; agravamento da situação no
interior, com escassez e falta d'água em função da seca e privatização da água;
recrudescimento do machismo e patriarcalismo, do racismo, da homofobia; criminalização
e assassinatos impunes de lutadores(as) a exemplo de Carlinhos e Zé Maria do
Tomé; perseguição aos povos indígenas, suas terras e sua cultura em prol do
agronegócio e de grandes obras (Belo Monte, etc.).
Por outro lado, a resposta às lutas e manifestações
populares tem sido a repressão violenta, a criminalização e humilhação contra
manifestantes. A Polícia Militar, cuja estrutura fortalecida na Ditadura
permanece até hoje, é levada a tratar os movimentos sociais como “inimigos
internos”. Nesse sentido, o governo faz grandes investimentos na repressão
(armamentos, aumento do contingente militar, etc.) e tenta impor uma legislação
em certos aspectos semelhante à Ditadura para intimidar e tentar conter os
manifestantes. E tem a mídia que manipula e usa dois pesos e duas medidas para
abordar os conflitos e suas consequências.
E agora? Retorno à ditadura é reeditar o fascismo. Ficar
como está já não dá mais. Nem o passado como era nem o presente como está.
Mais do que nunca é fundamental desenvolvermos uma profunda
crítica à lógica do sistema capitalista na perspectiva de suplantá-la e
construir uma alternativa. E essa crítica já começa a ganhar corpo. Para isso é
decisivo dimensionarmos que, se dentro dessa lógica não tem saída, nós temos
que caminhar no sentido de rompermos com ela, de nos recusarmos a lhe dar
sustentação, seja pelo mercado, seja pelo estado. Se essa lógica está nos
desumanizando temos que quebrar a sujeição a ela e realizarmos uma nova
humanização, nos constituindo efetivamente como seres humanos conscientes e
livres para dela nos libertarmos. Temos que focar o gume da nossa luta no alvo
preciso do sistema e suas catástrofes. Somente assim a luta dos(as) que foram
presos, torturados, perseguidos, assassinados, desaparecidos, censurados, exilados...
não foi em vão.
TODOS (AS) À PRAÇA DO FERREIRA
DIA 31 DE MARÇO – 15 HORAS
Apoiam o ato unificado:
Rede Jubileu Sul, CEDECA, #OcupeOCocó, Crítica Radical,
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, Movimento dos Conselhos Populares
– MCP/ Raízes da Praia, MCP/Palmeiras, União das Mulheres Cearenses – UMC, Casa
Chiquinha Gonzaga, Comitê pela Desmilitarização da Polícia, Comunidade ALTO DA
PAZ, Unidade Classista de luta por moradia, Unidade Classista dos movimentos
sindicais, Comunidade Lauro Vieira Chaves, +Pão-Circo, MCP-Planalto do Pici,
Caravana da Periferia, Associação dos Funcionários do BNB – AFBNB, SINDIFORT,
SINDIÁGUA, Intersindical, Sindicato dos previdenciários do Ceará Sinprece,
RUA-Juventudes anticapitalistas, APROCE, Comunidades Eclesiais de Base – CEBs /
Pastorais Sociais da Arquidiocese de Fortaleza, Pastoral Carcerária do Ceará,
Instituto TERRAMAR, Amadeu Arrais (parlamentar cassado em 64), Nildes Alencar
(Ex- presidente do Movimento Feminino pela Anistia), Ademir Costa (Movimento
Pró-Parque), Pe. Manfredo Oliveira, Pe. Almir Magalhães, Maria Luiza Fontenele
(Ex-Prefeita de Fortaleza), Marcelo Marques (Prof. IFCE), Onidraci R. Soares do
Rosário (IFCE), Luciano de A. Filgueiras Filho/ Fco. Gonçalves Vieira/ Valmir
Braga/ Ana Mª Parente Viana (diretores do SINTSEF), Janete Melo (Comitê
Permanente em Apoio à Causa Indígena), Wilton Matos (Agroflorestar), Érica
Pontes (geógrafa e Agroflorestar), Sindicato Estadual dos Aeroviários
(SINDAERO), Sindicato dos Jornalistas (SINDJORCE), Associação dos Servidores
Municipais de Canindé (ASPMC), Oposição do Sindicato dos Servidores de Canindé,
Associação dos Servidores do IJF, Sindicato dos Trabalhadores da Emlurb –
Sindilurb, Movimento Livre, Associação pelo Desenvolvimento Social e Cidadania
do Planalto Pici e Adjacências (Adepe), Associação dos Servidores do Instituto
de Pesos e Medidas (Ipem), Associação dos Auditores do Estado do Ceará –
Auditece, Instituto Ambiental Viramundo; CDVHS – Centro de Defesa da Vida
Herbert de Souza; Rede Delis; Adeliani Almeida Campos (Profª UFC).
Compartilhado por Rosa da Fonseca