O povo Pitaguary vive em várias
localidades do Ceará, dentre as quais Santo Antônio, Horto, Olho D’Água
(Maracanaú) e Monguba (Pacatuba). É para manter o equilíbrio ecológico, o
conforto e a saúde de toda a população que vive no entorno da Serra da Monguba,
que os índios Pitaguary travam grande batalha contra empresários que tentam
reativar uma antiga pedreira, denominada como empresa Britaboa Ltda, inativa há
mais de 20 anos.
De acordo com o historiador
Tyrone Cândido (UECE), em suas pesquisas, “Santo Antonio do Pitaguary aparece em
meados do século XIX como terras do comendador João Mendes da Cruz Guimarães
que, para construir um açude no local, contratou dois operários alemães (Stueer
e Tylren) que logo desistiram de trabalhar para este senhor reclamando de baixos
salários e trabalho em excesso (possivelmente ao lado desses operários alemães
trabalhavam indígenas em condições de cativeiro). Anos depois, após a seca de
1877, dizia-se proprietário de Santo Antonio do Pitaguary o também comendador
Luis Ribeiro da Cunha, um português que chegou ao Ceará muito jovem e pobre,
mas enriqueceu no comércio. Ganhou título de barão do Império porque doou as
terras para a criação da Colônia Orfanológica Cristina. A história dessa
instituição também retrata bem o processo de inserção daquele território à
lógica do capital: de educandário profissionalizante para crianças que haviam
perdido os pais na grande seca, logo se tornou centro de exploração de madeira
para fornecimento de dormentes e lenha para as linhas férreas e locomotivas da
Estrada de Ferro de Baturité (afinal qual não seria, aos olhos do capital, a
mão de obra preferencial para esse tipo de serviço aviltante senão crianças?).
Com o tempo, essa instituição torna-se centro prisional para menores
infratores. Ouvi relatos recentes que até hoje existe ali argolas onde dizem
que no passado prendiam os indígenas para castigos. Do lado de cá da Serra, na
Monguba, consta que durante a seca de 1877 já havia extração de pedras onde
retirantes, principalmente mulheres e crianças, eram levadas a carregar pedras
até a linha férrea para que fossem transportadas pelos trens para a
pavimentação das estradas de Messejana e Soure (Caucaia)”.
No último dia 06 de julho, em
visita técnica à Terra Indígena Pitaguary, como parte das atividades do I Seminário sobre Conflitos Territoriais e Cartografia Social, foi possível compreender ainda mais as atuais angústias e
demandas desse povo, hoje representado por quase 4.000 índios.
Chamou a atenção o pedido feito
pelo Pajé Barbosa (veja na foto abaixo) sobre a destruição causada na vegetação
da serra pela ação degradadora da pedreira Britaboa.
Como se não bastasse isso, os
praticantes de parapente, que fazem sobrevoo na Monguba, estão substituindo a
vegetação no topo da serra por capim e a comunidade já percebe o desaparecimento de
várias espécies de plantas rasteiras, conforme relato de Rosa
Pitaguary, liderança indígena.
Leia também: Maracanã e Pitaguary