domingo, 12 de fevereiro de 2012

Campanha em defesa dos manguezais do Ceará



Os manguezais protegem a linha de costa, promovendo um anteparo às ondas, às ressacas, aos ventos e às correntes que atingem o litoral. São berços da vida marinha. Moluscos, peixes e crustáceos dependem desses habitats para se reproduzirem. Com suas raízes aéreas fazem a retenção de nutrientes, sendo considerados verdadeiros parques de engorda para a vida marinha; estando submersas, suas raízes filtram e melhoram a qualidade da água.

As copas de suas árvores são habitats de aves marinhas e migratórias.  Suas folhas são responsáveis pela fotossíntese que produz parte do oxigênio que respiramos, além de seqüestrarem dióxido de carbono (gás causador do efeito estufa). Os manguezais controlam as enchentes e as inundações.

A votação do novo texto do Código Florestal na Câmara dos Deputados está se aproximando, com previsão para ocorrer no dia 6 de março de 2012. Em protesto às mudanças nefastas para o meio-ambiente, uma série de mobilizações está ocorrendo em todo o país em prol dos manguezais, com a coordenação nacional da ONG SOS Mata Atlântica e apoio do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável.

No Ceará, o lançamento da campanha ocorreu dia 08 de fevereiro, no Cuca Che Guevara, na Barra do Ceará em Fortaleza, com a coordenação da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis). O ato, que visa mobilizar moradores e turistas sobre a importância dos manguezais, alerta para os riscos que as mudanças no Código Florestal trazem para o futuro desses ecossistemas.

Além das apresentações culturais dos indígenas Tapeba, do grupo "Tambores do Manguezal", artistas e ambientalistas também defenderam a enorme importância dos manguezais. Encerrando o primeiro dia da série de ações, duas embarcações seguiram para a outra margem do Rio Ceará, onde foi realizado um mutirão de limpeza do ecossistema e plantio de 40 mudas de mangue.

Raimunda Cruz, 67 anos, representante da Etnia Tapeba, em Caucaia, formada por cerca de sete mil índios, uma das comunidades tradicionais que será diretamente afetada com as mudanças - considerando que eles sobrevivem da agricultura, caça e pesca - denuncia a falta de valorização com as riquezas que o mangue proporciona em termos econômicos e ambientais e que o Rio Ceará está poluído. Reclama ainda que ocorra grande retirada de areia e da degradação do manguezal, o que ocasiona, entre outras conseqüências, a escassez do marisco, fonte de alimento e de renda.

Antes da aprovação do novo texto do Código Florestal, os manguezais eram considerados áreas de preservação permanente e sua ocupação, proibida. Mas com as mudanças no texto e a introdução da emenda que permite a ocupação de apicuns e manguezais, estas áreas correm sério risco, já que seria liberada para o avanço ainda maior da carcinicultura, uma atividade não tradicional, aliás, um fenômeno muito recente, fruto da esperteza daqueles que se aproveita de bens públicos.

Os manguezais são ecossistemas sensíveis, mas de vital importância para um país onde seus governantes deixam de lado as políticas públicas, livram o descaramento destes gestores que não priorizam os investimentos em saneamento básico. De acordo com o IBGE, somente 20% de todo o esgoto que se produz no Brasil, recebe tratamento adequado e são justamente os esgotos não tratados a principal fonte de poluição oceânica no planeta.





Neste sábado, 11 de fevereiro, às 16 horas, na Avenida Beira-Mar em Fortaleza, houve mais uma ação da campanha que contou com a "Travessia de Natação em Águas Abertas e de Stand Up Paddle". Outro grupo deu a largada em frente às quadras de vôlei de praia: os "Tambores do Manguezal", convidados e adolescentes do Projeto da Brigada da Natureza fizeram uma caminhada pelo calçadão, chamando a atenção de populares e turistas, alertando para os riscos que as mudanças no Código Florestal podem trazer para o equilíbrio desses ecossistemas









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