Os manguezais protegem a linha de
costa, promovendo um anteparo às ondas, às ressacas, aos ventos e às correntes
que atingem o litoral. São berços da vida marinha. Moluscos, peixes e
crustáceos dependem desses habitats para se reproduzirem. Com suas raízes
aéreas fazem a retenção de nutrientes, sendo considerados verdadeiros parques
de engorda para a vida marinha; estando submersas, suas raízes filtram e
melhoram a qualidade da água.
As copas de suas árvores são habitats
de aves marinhas e migratórias. Suas
folhas são responsáveis pela fotossíntese que produz parte do oxigênio que
respiramos, além de seqüestrarem dióxido de carbono (gás causador do efeito
estufa). Os manguezais controlam as enchentes e as inundações.
A votação do novo texto do Código
Florestal na Câmara dos Deputados está se aproximando, com previsão para
ocorrer no dia 6 de março de 2012. Em protesto às mudanças nefastas para o
meio-ambiente, uma série de mobilizações está ocorrendo em todo o país em prol
dos manguezais, com a coordenação nacional da ONG SOS Mata Atlântica e apoio do
Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável.
No Ceará, o lançamento da
campanha ocorreu dia 08 de fevereiro, no Cuca Che Guevara, na Barra do Ceará em
Fortaleza, com a coordenação da Associação de Pesquisa e Preservação de
Ecossistemas Aquáticos (Aquasis). O ato,
que visa mobilizar moradores e turistas sobre a importância dos manguezais,
alerta para os riscos que as mudanças no Código Florestal trazem para o futuro
desses ecossistemas.
Além das apresentações culturais
dos indígenas Tapeba, do grupo "Tambores do Manguezal", artistas e
ambientalistas também defenderam a enorme importância dos manguezais.
Encerrando o primeiro dia da série de ações, duas embarcações seguiram para a
outra margem do Rio Ceará, onde foi realizado um mutirão de limpeza do
ecossistema e plantio de 40 mudas de mangue.
Raimunda Cruz, 67 anos,
representante da Etnia Tapeba, em Caucaia, formada por cerca de sete mil índios,
uma das comunidades tradicionais que será diretamente afetada com as mudanças -
considerando que eles sobrevivem da agricultura, caça e pesca - denuncia a
falta de valorização com as riquezas que o mangue proporciona em termos
econômicos e ambientais e que o Rio Ceará está poluído. Reclama ainda que ocorra
grande retirada de areia e da degradação do manguezal, o que ocasiona, entre
outras conseqüências, a escassez do marisco, fonte de alimento e de renda.
Antes da aprovação do novo texto
do Código Florestal, os manguezais eram considerados áreas de preservação
permanente e sua ocupação, proibida. Mas com as mudanças no texto e a
introdução da emenda que permite a ocupação de apicuns e manguezais, estas
áreas correm sério risco, já que seria liberada para o avanço ainda maior da
carcinicultura, uma atividade não tradicional, aliás, um fenômeno muito
recente, fruto da esperteza daqueles que se aproveita de bens públicos.
Os manguezais são ecossistemas
sensíveis, mas de vital importância para um país onde seus governantes deixam
de lado as políticas públicas, livram o descaramento destes gestores que não
priorizam os investimentos em saneamento básico. De acordo com o IBGE, somente
20% de todo o esgoto que se produz no Brasil, recebe tratamento adequado e são
justamente os esgotos não tratados a principal fonte de poluição oceânica no
planeta.
Neste sábado, 11 de fevereiro, às 16 horas, na
Avenida Beira-Mar em Fortaleza, houve mais uma ação da campanha que contou com
a "Travessia de Natação em Águas Abertas e de Stand Up Paddle". Outro
grupo deu a largada em frente às quadras de vôlei de praia: os "Tambores
do Manguezal", convidados e adolescentes do Projeto da Brigada da Natureza
fizeram uma caminhada pelo calçadão, chamando a atenção de populares e turistas,
alertando para os riscos que as mudanças no Código Florestal podem trazer para
o equilíbrio desses ecossistemas