Pela segunda vez estive em visita ao complexo do Açude Padre Cícero, o Castanhão. Antes do alagamento da antiga cidade de Jaguaribara, tive ainda a oportunidade de conhecê-la tal como era nos áureos tempos, mas já com algumas construções em fase de demolição.
O município sobrevivia da pesca no rio Jaguaribe e
da agricultura de subsistência (arroz, milho e feijão), contava também com os pequenos
e médios criadores de gado bovino. A atividade industrial era constituída pelo beneficiamento de produtos alimentícios (engenhos; fabricação de lacticínios como queijo e manteiga; casa de farinha)além de atividades relacionadas ao comercio e prestação de serviços.
Em 1985, os moradores de
Jaguaribara foram notificados sobre a construção da Barragem do Castanhão, que
teria como grande impacto o desaparecimento da cidade, considerando que para
construir o açude seria necessário que uma área equivalente a 2/3 da cidade de
Jaguaribara fosse inundada, o que levaria a construção de uma nova sede.
A transferência dos moradores para a cidade projetada, a Nova Jaguaribara, foi iniciada no ano de 2000, distante 55 km
da antiga sede, sendo oficialmente inaugurada em 2001 pelo Governo do
Estado do Ceará. Os limites geográficos do novo município passou a ser: a leste, os municípios de Iracema e Alto Santo; a oeste, o município de Jaguaretama: ao norte, o
município de Morada Nova e ao
sul, Jaguaribe.
De acordo com dados do IBGE-2000 a área territorial é de 595,60 km² e a
população residente de 8.730 habitantes. Aos moradores da antiga cidade de Jaguaribara foram oferecidos três tipos de residências baseando-se nas antigas moradias. De cada localidade foram realocados habitantes, sendo: 3.300 da
cidade de Jaguaribara, 120 do distrito de Poço Comprido e 220 de um bairro da cidade
de Jaguaretama e Alto Santo.
O projeto inicial do Açude Castanhão remonta ao
século XIX, quando o engenheiro da Universidade de Stanford, “Sir” Roderic
Crandall, procurava localizar em seus estudos uma área que abrigasse um
empreendimento com capacidade para garantir uma grande reserva hídrica, suficiente
para enfrentar a escassez crônica de água no Estado do Ceará, em função da
irregularidade dos períodos chuvosos no semi-árido Nordestino.
Em 1995, durante o governo de Tasso Jereissati, a
construção da barragem teve início, sendo concluída oito anos depois, já na
gestão do governador Beni Veras. A obra foi resultado de uma parceria entre o
Governo do Estado do Ceará, sob os cuidados da Secretaria de Recursos Hídricos
– SRH-CE e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS.
O complexo foi
construído sobre uma área de falha geológica e de constantes abalos sísmicos. Na construção da barragem
foram feitas perfurações de até 40 metros abaixo da base do açude e injetado nas fissuras, o concreto rolado até seu fechamento completo. No entanto, os
sismólogos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) afirmam que a
falha geológica se encontra abaixo de 2 ou 3 quilômetros da base,
tornando a medida de contenção com concreto ineficaz.
Para evitar então um impacto maior a parede do açude foi construída
de forma reforçada, com 70
metros de largura na base e sete metros no topo, com 70 metros de altura. O
movimento que pode ser suportado na movimentação de blocos é de até cinco
centímetros, porém o movimento causado pela dilatação gerada pelas diferenças
de temperatura (frio e calor) já tem sido de 1,5 a 2 centímetros .
Os principais impactos relacionados ao modo de vida dos
habitantes da cidade inundada foram os cortes com os laços culturais e a perda da atividade econômica, extremamente ligada ao rio Jaguaribe, considerando que muitas famílias viviam da pesca no rio e a distância da nova sede inviabilizou este acesso. Além do fato da nova cidade projetada não conservar os laços com a antiga vizinhança, constituindo um aspecto muito negativo. Há informações que os índices de
suicídios são alarmantes em conseqüência de processos depressivos.
A exclusão de parte da população residente nas proximidades do complexo, sem acesso à água para
plantio, em função da falta de recursos financeiros para dispor dos equipamentos necessários, que atenda as exigências de utilização
do recurso hídrico, acentua os dramas sociais. Mais acessibilidade evitaria tanto desperdício e poderia otimizar a produção e a qualidade de vida da população. Muitos trabalhadores rurais ainda esperam a promessa de ativação e potencialização dos projetos irrigados.
DADOS TÉCNICOS - AÇUDE CASTANHÃO
Inauguração:
23/12/2003
Metodologia: Pesquisa de
campo - Agosto de 2011
Gestão de Recursos Hídricos
- Prof. Ms. C. Ciarlini
Colaboração: Wagner Carneiro
- Geógrafo